“O F. aterrorizava-me. Eu era pequena. Lembro-me de chorar; o meu corpo fazia força a puxar-me para trás dos meus pais, assim que o via ao longe. Alto, cabelos compridos e desalinhados, andar «estranho», uma fala, para mim, impercetível. Ouvia os meus pais dizerem que ele era como uma criança. E ele falava para mim e procurava afagar-me a cabeça. Mas só me lembro de sentir muito medo. E não o ver mais.

Só mais tarde me fui apercebendo das diferenças e das limitações que algumas provocam. Só como profissional percebi a verdadeira dimensão da diferença e o quanto ainda temos que trabalhar no nosso conceito de Inclusão.”

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem acolhido nas suas preocupações a questão da Diferença e, desde 1992 que se assinala anualmente o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência , a 3 dezembro. 2006 constitui um marco histórico neste campo, com a redação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, instrumento legal que reafirma princípios universais como a INTEGRIDADE, IGUALDADE e a NÃO DISCRIMINAÇÃO das pessoas com deficiência, e que tem vindo a ser gradualmente ratificada por diversos Estados. Portugal assumiu a sua integração plena nas leis e procedimentos nacionais em 2009.

Hoje, sabendo que temos sempre caminho a fazer, conseguimos perceber evoluções positivas significativas. Conseguimos problematizar os conceitos nas nossas ações: perceber que, por exemplo, a IGUALDADE não nos torna iguais; antes nos equipara em direitos no acolhimento das nossas diferenças. Surge a EQUIDADE – facilitar a cada um aquilo que lhe permite um igual acesso aos direitos que são para TODOS. Percebemos que NÃO DISCRIMINAR implica INCLUIR e não somente integrar. E incluir é viver junto, é fazer parte e tornar parte.

Algumas diferenças são visíveis; algumas ainda metem medo a algumas pessoas, em alguns pontos do mundo. Outras não se veem, mas também estão lá. Todas encerram especificidades que só quem as vive consegue alcançar. Todos temos o dever de nos incluir a todos!

Por isso, assinalamos este dia e ao fazê-lo preferimos falar de DIFERENÇA. Porque ela nem sempre é fácil de assumir, compreender ou concretizar. Mas é o que nos torna ÚNICOS e IGUAIS em direitos!

E, quando por algum acaso não for imediato ter esta consciência – porque nem sempre é – olhemos com “os olhos do coração” e “calcemos os sapatos do outro”. Compreender o lado que não vivemos, mostra-nos a grandiosidade que reside em cada SER e o quanto podemos Crescer Juntos, com naturalidade!

Esta é a mensagem que queremos deixar…

“Sei que já não é possível, mas gostava de me cruzar com o F.. Dizer-lhe que já não tenho medo e poder dar-lhe a mão.”

Fontes: Ministério Público e Direção-Geral da Saúde

 

Susana Alberto