Quando nós, adultos, ouvimos a palavra “rotina” quase sempre a associamos àqueles dias rotineiros em que nos movimentamos, quase em modo “piloto-automático”, entre o nosso trabalho, a lida da casa e o apoio à família. E isso pode ser, efetivamente, uma rotina vivida de forma entediante!

No entanto, se refletirmos um pouco sobre este conceito, conseguimos compreender a importância do seu estabelecimento na vida das crianças e jovens.

A rotina consiste numa sequência de acontecimentos que se repetem, de forma mais ou menos previsível, o que se traduz num sentimento securizante que nos permite antecipar os momentos que vivemos e, de alguma forma, adaptar-lhes as nossas posturas e comportamentos, agindo em função da organização dos mesmos. Isto é verdade para os adultos e é verdade para as crianças e jovens!

No entanto, considerando que estes ainda estão em formação da própria personalidade, a gestão das emoções e comportamentos deve ser facilitada através do estabelecimento de regras, limites e rotinas estáveis. E isto depende de adultos conscientes e responsáveis.

Logicamente, quando falamos em estabelecer rotinas, também é essencial que tenhamos presente a flexibilidade para integrar momentos imprevisíveis e a negociação para permitir que estas sejam compreendidas, aceites e cumpridas sem zangas. Da mesma forma, teremos de articular, sem dramas, as diferentes rotinas dos membros da família e aceitar que nem sempre chegaremos ao que consideramos ideal. E depois ainda surge outra questão: as rotinas são tão importantes na gestão do nosso dia-a-dia, mas, no entanto, quando surgem as férias… só queremos fugir delas! Então isso é errado?

Não!

Nas férias, precisamos mesmo de espaço para fugir-lhes. Viver momentos imprevisíveis, de afetos, sem tempos definidos, em lugares que nem sempre conhecemos. Esta “fuga” permite-nos, a todos, “carregar” energias. Mas note-se que, apesar de deliciosa, esta também carrega, por vezes, a agitação e irritabilidade dos mais jovens provocadas pelo cansaço, incapacidade para antever acontecimentos e perda da noção de tempo. Há, portanto, que equilibrar esta “quebra” com a inclusão de alguns momentos que respondam às suas necessidades básicas e assegurar que, dentro da imprevisibilidade, lhes transmitimos a segurança possível, através do diálogo, da presença efetiva e da auscultação das suas expectativas. Falemos numa espécie de “rotina dos sem rotina”.

Por outro lado, teremos de compreender que (infelizmente) as férias passam a correr e convém que nos últimos dias comecemos a preparar-nos, e especialmente aos mais jovens, para um regresso ao que habitualmente é a nossa vida! Antecipar gradualmente a hora de deitar e acordar, acertar as horas das refeições, conversar muito sobre o “regresso” e tudo de bom que nos espera.

No final de contas, as rotinas não têm de ser rotineiras e, quando planeadas em conjunto, podem integrar momentos muito divertidos para todos e, especialmente, muito afetuosos! Na verdade, a “ausência da rotina” nas férias só é tão boa porque ela existe durante todo o tempo restante!

Susana Alberto - Consultora pedagógica