Já ouvi dizer, por vezes com um sentido pejorativo, que “os avós estragam com mimo”. Fico sempre a pensar nos que conheço, e nos meus próprios, e desejo então, com muita força, que todas as crianças possam ser muito “estragadas”.

Os avós, quando têm a possibilidade de estar presentes na vida dos seus netos, são construtores das doces memórias que alimentam o coração e o brilho do olhar quando, em adultos, recordamos partes da nossa infância.

Experimentem pensar neles… este texto é dirigido a vós, gente crescida! Recuem às vossas vivências e deixem-se tomar pelo que sentem.

Avô, lembro-me tão bem dos passeios na vinha, de comer as uvas da videira; do teu colete e da tua boina. De me deixares brincar com os pesos da balança. Lembro-me das torradas na braseira e da tua cadeira, que era só tua.

Avó, lembro-me dos banhos de mangueira quando regavas a horta; de me deixares pegar os coelhos e vestir os cães; de fingires que não me vias a molhar o dedo no açucareiro e do teu maravilhoso café de saco. Das “resmunguices” caraterísticas de quem ama.

Avô, lembro-me dos teus silêncios com o olhar brilhante sempre que nos vias sair, e da alegria com que me ajudavas a colher as maçãs dos ramos mais altos.

Avó, lembro-me de ir contigo à fonte e de me deixares molhar no tanque; de me “aceitares” dentro da capoeira das galinhas e mesmo quando te “depenava” as flores mais bonitas do canteiro para fazer comidas para as bonecas  lembro-me do teu cuidar e da tua resistência.

Olho para a minha mãe, hoje também avó, e vejo que toda a ternura se duplica… e sim, tendencialmente, ela permite coisas que noutros tempos dariam azo a um ralhete. Mas esta é a particularidade do posto que agora ocupa e que de outra forma não seria tão especial!

Por isso, se conseguiram fazer este exercício e se o acabaram com um sorriso no rosto ou uma lágrima no olho, corram a abraçar, nem que seja virtualmente, os vossos avós. Se têm filhos, incentivem-nos a fazer o mesmo, permitam-lhes serem “um bocadinho estragados” – fará com que sejam crianças mais felizes e adultos mais equilibrados. Mas acima de tudo, se são avós, este texto é para vocês. Percebam que algures, perto ou longe, têm alguém que pode até ainda não ter compreendido o quanto vocês são fundamentais, mas um dia esse alguém vai fechar os olhos, pensar em vós e sorrir. Marquem o número, escrevam uma mensagem, batam à porta, troquem um abraço com o olhar.

Os avós são e estão para sempre…

Susana Alberto - Consultora pedagógica